Simples eleva receita de municípios de SC
Estela Benetti
Diante de uma carga tributária da Ordem de 40% do PIB na prática, as atenções das empresas são grandes para a aprovação da mudança no Simples e para conter novas altas de carga tributária. Anteontem, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal aprovou o projeto que aumenta limites de alíquota do segmento e o projeto pode ser aprovado ainda este ano. Vale destacar que as alterações realizadas anteriormente no simples já ajudam as Prefeituras. Quem explica, na entrevista a seguir, é o advogado tributarista e professor da Unisul, Vicente Capella (foto).
A mais recente mudança no Simples Nacional que entrou em vigor, com inclusão de categorias como médicos e advogados, aumentou a arrecadação dos municípios?
Vicente Capella – Sim. Florianópolis é um dos municípios que tiveram aumento de repasses do Simples. Em junho deste ano o acréscimo do repasse do Simples para a capital catarinense foi de 41,96%. Outro mês com elevação semelhante, de 42%, foi fevereiro deste ano quando a arrecadação alcançou R$ 4.107.945,92 frente a R$ 2.876.905,39 em fevereiro de 2014. Em junho deste ano o acréscimo do repasse do Simples para a capital catarinense foi de 41,96%. Antes, os médicos e advogados pagavam mais Imposto de Renda e um valor menor do Imposto sobre Serviços, o ISS. Muitos definiam um valor fixo. Com o Simples, caiu o IR e aumentou a arrecadação total do ISS na maioria dos casos.
Além da alta carga tributária, no que mais as empresas sofrem com o governo
Capella – O peso da carga tributária tornou-se um dos principais itens nas despesas das empresas. Com isso, o tempo dedicado a buscar alternativas menos onerosas também cresce. Basta ver o recente anúncio da mudança da sede da Unimed Grande Florianópolis para Palhoça. Do ponto de vista do negócio não faz sentido afastar-se do centro de suas operações. Apenas a possível economia compensa o distanciamento. O esforço e tempo da empresa voltam-se para o governo em detrimento da busca pela melhoria do negócio. A burocracia também pesa. Segundo o relatório do Banco Mundial “Doing Business 2016”, o Brasil é o que mais demanda tempo para a burocracia fiscal com uma média de 2.600 horas/ano, seguido da Bolívia (1.025 horas/ano) e da Nigéria (907,9 horas/ano).
Como vê as tentativas de resolver os rombos com aumentos temporários como cogita o governo federal?
Capella – Devemos resistir a qualquer aumento dos tributos, mesmo os chamados temporários. A alíquota máxima de imposto de renda da pessoa física era de 25% até a crise dos Tigres Asiáticos de 1997, quando passou a 27,5% e nunca retornou ao patamar inicial. Quando a União reconheceu perdas com os planos Verão e Collor I precisou de uma fonte de receita para essas compensações. Foi criada uma contribuição social para cobrar um adicional de 10% da multa do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), pelo artigo 1º da Lei Complementar 110/2001. A lei previu que os recursos fossem direcionados para pagar os acordos firmados com os empregados. No entanto, mesmo após a quitação de toda a dívida a cobrança continua.
É possível trabalhar a questão tributária de forma inteligente e eficiente?
Capella – A arrecadação de Santa Catarina com o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) é um exemplo de sucesso da inteligência tributária. Houve uma mudança na forma de estruturação, declaração e fiscalização. Hoje, o contribuinte é responsável pela avaliação do bem doado, fazendo o pagamento sem qualquer participação do Estado. Com isso, os fiscais ficaram livres para revisarem os casos mais importantes e identificarem eventuais diferenças.
Qual foi o impacto dessa mudança na arrecadação do ITCMD?
Capella – Essa é uma das razões dos sucessivos recordes de arrecadação do ITCMD em Santa Catarina. Em 2014, a receita com esse tributo cresceu 21,5% e no primeiro semestre deste ano a alta da arrecadação chegou a 47,35%. E não houve aumento de alíquota ou base de cálculo nos últimos cinco anos.
Fonte: Diário Catarinense, 10/12/2015.